segunda-feira, 6 de julho de 2009

Rumo ao Sucesso

Rumo ao Sucesso

Título provisório

Escrito por Rafael Pinheiro

Rumo Ao Sucesso

Escrita por Rafael Pinheiro

Sinopse – Conta a história de um escritor e de todos os seus tormentos para criar algo novo. Ao criar ele entra em um mundo onde tudo se torna problemas , o mundo de sua própria imaginação. O que ele pensa sobre o mundo, suas atitudes, tudo é refletido em seus personagens.

Cenário – No palco à direita uma cadeira e uma mesa dessas antigas de madeira e uma máquina de escrever.

Personagens – Elias..................... Escritor

Francisco .............Proprietário

Editor .................. Editor

João..................... Personagem 1

Sávio.................... Personagem 2

Rosana................. Personagem 3

Kelly...................... Personagem 4

Platéia....................Alguém da Platéia

Mulher ...................Mulher bonita e sensual

1º ATO

Cena 1 – Noite

O escritor está sentado em sua cadeira escrevendo na velha máquina de escrever, parece impaciente, nervoso, acende um cigarro olha para o texto, tira da máquina e jogo no lixo, pega outro papel coloca na máquina, bate algumas vezes no teclado, apaga o cigarro, tira o papel da máquina e joga a máquina no lixo.

Elias – Porcaria! Jamais vou conseguir sair dessa vidinha medíocre. Um escritor de merda que eu sou, não consigo escrever nada diferente! (olha a máquina no lixo) Ainda por cima estou ficando louco (pega a máquina do lixo e coloca em cima da mesa). Ah raios me partam, se ao menos eu fosse um pouco mais inteligente...

O telefone toca, Elias olha para o telefone, e fica na dúvida se atende ou não, ele senta em frente a máquina de escrever, olha para a máquina, olha para o telefone e resolve atender

Cena 2

Elias – Alou, oi Lisa, tudo bem...é eu estava tomando banho... que isso, não incomoda não... claro...claro, infelizmente não vai dar para ir não, é que eu estou terminando o meu livro... obrigado, ele está ficando sensacional sim. Tá bom, um super beijo... tchau.

(Elias inconformado com a ligação)

Elias – Vê se pode isso, nesse mundo de hoje só existem vagabundos, só me ligam para me tirar dinheiro, até parece que eu posso ficar indo nessas festas de bêbados, eles só pensam em beber e fazer merda pela rua...(vai até o bar, pega um uísque e volta a falar), mas eles vão ver, assim que eu fizer sucesso com esse meu livro...mas que livro, se tudo que eu tenho são papéis amassados e meia dúzias de idéias mesquinhas em minha mente. Sabe de uma coisa, dane-se, dane-se tudo, o mundo, esse meu texto de merda, a minha vida, dane-se!!!

BO

Cena 3

(Elias está debruçado sobre sua mesa, já é de manhã, ele acorda, olha para a máquina e começa a escrever algo sem sentido, enquanto ele escreve ele fala o que está sendo escrito)

Elias – Ontem adormeci, é só agora percebo a vida que escrevi para mim mesmo, espero que isso sirva para alguém, caso contrário será apenas mais um papel manchado por tintas em forma de letras, e certamente irá parar em uma de minhas gavetas e nunca mais será lido por ninguém. Minha vida, é uma utopia das mais idiotas que um ser humano poderia querer para si, todavia com isso posso parar e pensar no que me transformei em prol de minhas obras, um verdadeiro nada. Por que ser um escritor, se hoje em dia nem mesmo um médico vive bem, por que tanta luta para escrever um livro que talvez nunca será terminado, e a resposta, apenas uma, se fosse simples passar para o papel o que se tem em mente, todas as pessoas seriamos escritores.

(Elias para, e pensa em sua vida, começa a falar sozinho)

Elias – Mas como? Eu pergunto como escrever algo se minha vida não tem nada de interessante. Experiência de vida, que vida, se tudo o que eu faço é ficar aqui escrevendo algo que eu nem sei aonde vai dar. Preciso de experiência de vida...

(a campainha toca, entra em cena um sujeito marrento, de idade avançada, ele é o proprietário do imóvel, fala calmamente, porém suas palavras são fortes, ele veio cobrar o aluguel)

Cena 4

Francisco – Bom dia seu Elias, você tem alguma coisa para mim?

Elias – Oi .... eh...seu...seu Francisco, tem café, aceita?

Francisco – Não obrigado.

Elias – Água, suco, suco não, acabou! Tem uísque aceita?

Francisco – Não obrigado eu não bebo.

Elias – Então porque a pergunta se eu tenho algo para o senhor?

Francisco – É que hoje é dia 17 sabe, e eu sei que você está com dificuldades, mas eu e minha esposa, também temos e...

Elias- O senhor veio aqui me cobrar o aluguel?

Francisco – Cobrar não, estou apenas te lembrando que o aluguel vence hoje, e se você pudesse...

Elias – Se eu pudesse o que? Você tá achando que eu vou te enrolar e não vou pagar o aluguel? Fique sabendo que eu já tenho o dinheiro, mas preciso retirar ele no banco, amanhã o senhor poderia passar aqui para pegar essa merreca?

Francisco – Tudo bem, amanhã eu passo aqui, porque você sabe que a minha obra está em andamento e eu preciso desse dinheiro, se não eu nem viria cobrar pois sei que o senhor seu Elias é uma pessoa confiável e jamais iria deixar de pagar o aluguel, mas eu pensei que você poderia Ter se esquecido, afinal você parece viver tanto tempo ocupado que...

Elias - Olha seu Francisco, eu tenho um monte de coisas para fazer, tá amanhã você passa aqui para pegar seu dinheiro, tá bom?

Francisco – Tudo bem seu Elias, mas eu peço para não esquecer pois você sabe que eu tenho dificuldades...

Elias – Olhe aqui seu Francisco, não vem cantar de galo aqui não, eu tenho 5 dias para pagar o aluguel após o vencimento.

Francisco – Eu sei Elias, mas...

Elias – E além do mais essas instalações que você fez está uma boa porcaria, ontem com a chuva que caiu começou a jorrar água do tanque, minha casa não ficou inundada por sorte.

Francisco – Peço desculpas por isso, alguém deve Ter jogado alguma coisa para entupir a encanação.

Elias – Tá bom seu Francisco. Até amanhã!

Francisco – Até.

Cena 5

( Francisco sai de cena, Elias inconformado e ao mesmo tempo nervoso com o aluguel, começa a ligar para vária pessoas)

Elias – Como é que eu posso arrumar essa grana até amanhã?

Elias – Alõ, oi Márcia, tudo bem? Sou eu, Elias Gomes... isso mesmo, eu trabalhei com você naquele jornal do Rio, tudo bom? Olha, você não está precisando de nenhum colunista, ou contista para o seu jornal?... Ah você não trabalha mais lá... não tá tudo bem sim, é que eu estou com um tempinho livre e sabe como é né? Então tá, qualquer coisa eu te ligo, um beijo márcia, tchau!

(Elias pega um caderninho, e começa a procurar por telefones que possam ajudá-lo, está muito nervoso, acende um cigarro)

Elias – Quem eu posso ligar agora? Deixe-me ver, P, Q, R, isso Roberto, vou ligar para ele, ele sempre gostou de meus textos(vai discando enquanto fala), ele com certeza vai me contratar para alguma coisa...

Elias – Alô? O Roberto por favor,..., diga que é o escritor Elias, Obrigado,...Alô, sim, ...ele não está? Então diga para ele me ligar assim que puder. Obrigado.

Elias Bosta! Como eu vou conseguir arrumar esse dinheiro? Pense Elias, pense como outra pessoa, o que você faria para arrumar dinheiro em cima da hora?.... Já sei, vou ligar para o jornal da cidade (pegando o telefone). Alô, fala Brunão, tudo bem, é Elias. Tudo bem. Olha só estou com um livro Brunão, um livro que é sem dúvida o melhor de todos,..., eu sei que você está sem grana, mas eu não te ofereci nada ainda, só queria te ligar para comentar meu livro, tá bom, então tá certo. Tchau!

Elias – Ingrato. Sempre ajudei esse mané.

(Elias desliga o telefone e cada vez mais se encontra nervoso, a mente dele parece que vai explodir, ele volta para sua mesa de trabalho, e começa a escrever, para um pouco, e volta para o telefone para tentar uma ajuda.)

Elias – Vou Ter que apelar para minha mãe, eu sou um desgraçado mesmo, já dei tanto trabalho à ela, e agora que eu deveria ajudá-la continuo a explorá-la..., Alô, oi mãe td bem... como assim mãe eu nunca te ligo, estou te ligando agora, (Elias tira o telefone do ouvido, sua mãe deve estar gritando do outro lado), Calma mãe, eu preciso de uma ajudinha sua,..., Que isso Mãe, como que isso nunca vai Ter fim, eu juro que quando conquistar meu sucesso vai Ter fim sim. E aí mãe? Mãe?... Alô, Mãe... Desligou.

Elias – Ô merda, das grandes ainda por cima. Como é que ela pode dizer que nunca terá fim essa minha atitude, ela é muito ingrata. Eu só preciso de algo diferente, algo que venda, algo,... nunca terá fim(pensativo), nunca terá fim, um livro que nunca terá fim, é isso, é isso que eu precisava (vai ate o telefone e beija ele) Obrigado mãe, um livro sem fim, onde eu escreverei ele todo dia toda hora, as pessoas não conseguirão viver sem um capitulo, pois se eu parar de escrever, o mundo também irá parar. (corre até sua mesa de trabalho e começa a escrever sua história)

Cena 6

Sonoplastia – música de revelação estilo Era.

( Ele está sentado em sua cadeira, a luz abaixa, um foco nele apenas, da coxia vão saindo personagens que por ele estão sendo criados, eles vem rastejando até ganhar forças para ficar de pé, eles vão até o autor, passam por trás dele e sopram sua nuca, o autor sente um arrepio, mas não vê nada, como se cada personagem criado pelo autor, fosse um fantasma interno dele próprio).

Elias – O mundo, o meu mundo está sendo criado, e com ele a cobiça, a raiva, o amor, o ódio, as coisas belas, e as coisas que atormentam todo ser humano. Estou aqui, num momento de criação extrema, e a cada palavra escrita, um novo ser criado por mim, onde isso irá parar, não quero saber, eles terão tudo de mim, meu amor maior, meu respeito, eles são novos nesse mundo, e irão ver e viver aquilo que todos nós vivemos, uma loucura, uma insensatez moderna, um passo para o que chamamos de MUNDO, um mundo meu, só meu, o meu mundo, meu mundo, meu mundo.

BO

Cena 7

Elias está sentado escrevendo seu livro, ele fala enquanto escreve.

Elias – Em algum lugar no infinito, onde o homem jamais tinha pisado, onde o verde era mais verde, e os animais sem raciocínio viviam melhor do que a gente, esse lugar se encontra aqui, no nosso mundo, dentro de nossas mentes. E lá foi criado um João, e uma Kelly, logo vieram mais seres atrás do paraíso perfeito, mas a perfeição deixara de existir no momento em que eles encontraram-no. E é lá, ou melhor aí onde todo o nosso livro começa, e aonde ele vai parar? Sua mente é que vai lhe dizer. Então comece e mergulhe em seu próprio mundo, afinal esse é apenas o começo. Capitulo 1, a proposta.

Cena 8

(Elias continua a escrever, aparece em cena vindo do fundo do Teatro o Editor)

Editor – Elias meu grande amigo Elias, fiquei sabendo que está escrevendo um livro, e vim aqui.

Elias – Boa noite Editor, sente-se, aceita alguma coisa, um café uma água, um nabo?

Editor – Nabo? Não obrigado.

Elias – Pois bem Editor... que bom que você veio, eu estava tão solitário.

Editor – Você precisa sair mais, conversar mais, viver mais, eu não consigo entender como pode um escritor escrever sem Ter experiências.

Elias – Isso a gente cria, nunca foi problema para mim, eu escrevo como bebo água, está no meu sangue.

Editor – E o que você tem para mim?

Elias – Aceita água, café, um nabo?

Editor – Estou falando do texto.

Elias – Ah Claro, é um livro sem fim, e se você publicar irá ganhar muito dinheiro. Essa é minha proposta

Editor – Só isso?

Elias – Só.

Editor – Elias, eu só não entendi como poderá um livro sem fim fazer sucesso.

Elias – Façamos o seguinte então, leve o que eu escrevi até agora, e veja você mesmo se fará ou não sucesso.

Editor – Mas e quando eu chegar ao fim do livro, ou melhor ao não fim do livro?

Elias – Você irá se envolver tanto que não conseguirá sair de casa sem antes ler o que se segue.

Editor – Então você iria publicar diariamente a continuação do livro?

Elias – Exatamente, e a cada dia que se passar, um dia para o livro, com tempo real dos fatos, você irá viver para ler meu livro.

Editor – Duvido muito, mas tudo bem, eu vou levar e te digo amanhã a minha resposta.

Elias – Obrigado Editor, até amanhã então.

Editor – Até amanhã Elias.

(Editor sai de cena, Elias está cada vez mais envolvido em sua obra e aparece em cena uma mulher linda)

Mulher – Elias(chamando com uma doce voz).

Elias continua a escrever

Mulher – Elias(mais uma vez o chama).

Elias – O que foi, não vê que estou escrevendo!

Mulher – Mais eu estava com saudades.

Elias – E daí?

Mulher – Você nunca mais me chamou, eu pensei que tinha acontecido alguma coisa?

Elias – E aconteceu, eu estou escrevendo um livro.

Mulher – Você vai me trocar?

Elias – Nunca, você é insubstituível, agora me dá licença que eu quero escrever.

Mulher – Tudo bem, você é quem sabe, mas eu estava com tanto calor, com tanto tesão.

Elias para, olha para a mulher, olha para o texto, e se levanta

Elias – Eu escutei “Tesão”?

Mulher – É tesão, um T bem grandão.

Elias – Sendo assim, acho que posso arrumar um tempo para você.

Mulher – Escreve algo pra mim, vai, nem que seja um capitulozinho, eu preciso tanto de você.

Elias vai até a mulher e beija ela e joga ela no chão.

Elias – Capitulo 2 – Seus mistérios e segredos

BO

Ato 2

Cena 8

( O Editor continua na platéia)

Editor – Mais uma porcaria à ser publicada no mercado, porque todo mundo pensa que o que faz é arte, foi-se o tempo em que a arte era valorizada.

(Editor joga o texto em cima do palco e vai se sentar na cadeira)

(Luz na mesa com o texto, o Editor escuta vozes o chamando, ele se levanta e olha para o texto, sonoplastia bem melancólica, ele se levanta senta na mesa e começa a ler, nesse momento os personagens começam a aparecer.)

Kelly Então foi criado o homem, e com ele todas as possibilidades e dons necessários para criar o que quisesse, porém o homem, estava insatisfeito e resolveu criar ele próprio, um mundo paralelo, uma viagem a uma outra dimensão, veja, olhe-me, e sinta a verdade diante de ti.

(Editor que estava compenetrado lendo, volta os olhos para Kelly)

Editor – Isso não está acontecendo, você é uma personagem de um livro, não pode estar aqui...

Kelly – O que pode ou não está no que você acredita, ou você não percebe que eu vim de dentro de sua mente?

Editor – Eu estou ficando louco, não pode ser, você é igual...

Kelly – Ao seu primeiro amor? Eu sou o que você quer que eu seja, vai, navegue por dentro de seus mistérios que novos horizontes irão aparecer. Não tenha medo, você já está navegando, voltar ao porto é perda de tempo.

(Editor se levanta e começa a ler novamente, surge em cena João)

João – Oi Kelly!

Kelly – Vai pastar João.

João – Mas eu estou usando uma cueca importada, como é a sua calcinha?

Kelly – Não enche o saco otário.

João – Se eu adivinhar a cor de sua calcinha você me dá um prêmio?

Kelly – Babaca!

(Editor se levanta e começa a observar a cena)

Editor – Ela não te ama, nem quer saber de você João, parta para outra.

João – É fácil dizer quando se é outra pessoa, mas olhe novamente, eu sou você, e essa é a sua verdade, os seus segredos, preste atenção, pois assim é você.

Kelly – Olhe aqui João, eu não gosto de você, e nunca vou gostar, vê se dá o fora seu verme.

João – Mas Kelly, eu te amo, deixe eu mostrar meu amor por você, por favor?

Kelly – Amor? Desde quando cueca é amor?

João – Eu te amo, por favor kelly, diga que me ama?

Kelly – Jamais!

Kelly sai de cena

Cena 9

João e Editor conversando

João – Viu, percebeu o que eu disse, mas continue, agora vem a melhor parte, a revelação!

Entra em cena Sávio

Editor – Pare agora com isso, suma daqui, eu não quero ver nada disso, saiam daqui!

João – Você já mergulhou, não adianta tentar ir à tona pois seu esforço será em vão.

Sávio – Oi gatinho! Tudo bem, meu nome é Sávio, mas me chame de Sáviola e o seu?

João – Gatinho uma porra, o que você quer?

Sávio – Saber o seu nome!

João – João, e agora que já sabe dê o fora, ô Saviola!

Sávio – Calma bofe, eu vi aquela mulher te esnobar, mas você é muito melhor do que ela.

João – O que você sabe dela, hein?

Sávio – Eu não sei nada, mas o que você sabe de mim?

João – Sei que você é uma bicha louca, isso sim.

Sávio – Sou Sáviola, e qual o preconceito?

João – Olha aqui, quer me deixar em paz?

Sávio – Mas eu só quero te ajudar.

João – Eu não preciso de sua ajuda (já falando com mais consideração).

Sávio – Todas nós precisamos de ajuda de vez em quando conte para a Saviola aqui!

João – E como você poderia me ajudar?

Sávio – Você quer ajuda ou não? Olha queridinho, eu faço isso não é para te cantar, faço pois tenho coração e estou vendo que você precisa da ajudinha de Saviola.

João – Eu não preciso de sua ajuda sua bicha puta, Saviola é merda, Saviola é nojenta, Sáviola é lixo...

Sávio – (com voz de homem) Olha aqui seu merdinha, se você está com problemas e não quer ser ajudado o problema é seu, agora não desconta nas pessoas que querem te ajudar, ouviu bem o moleque! ...(quebra) Mas se precisar de ajuda, pode contar comigo, afinal eu sou Saviola.

João está quase chorando e abraça Sávio

Sávio – Venha cá que eu te ajudo!

Editor – Não vá João, ele vai te dar um beijo e você vai gostar. Não vá por favor!

João – Sinto muito Editor, mas a história não pode ser mudada, você escreveu seu próprio livro sem saber, sinto muito.

(João dá um Beijo em Sávio)

Editor – Não!!!!!

BO

Cena 10

(Elias está em sua casa escrevendo o livro, a campainha toca, é Francisco vindo cobrar o aluguel)

Elias – capitulo 3, o oportunismo.

Elias – Já vai, espere um pouco.

Elias se levanta e vai atender a porta

Elias – Ô seu Francisco, td bem como senhor?

Francisco – Td bem Elias, e aí tudo resolvido?

Elias – Olha seu Francisco você chegou cedo demais, eu mandei meu amigo ir pegar o dinheiro para mim, ele já deve estar chegando, que tal ler meu livro enquanto espera.

Francisco – Você é escritor né, legal. Eu posso levar para ler em casa e daqui a pouco eu volto aqui.

Elias – Td bem seu Francisco, pode levar sim.

Francisco sai de cena

Cena 11


Elias volta a escrever, sempre nervoso.

Elias – capítulo 4, inveja do poder.

Entra em cena Kelly, Rosana, Sávio e João, enquanto Elias escreve eles parecem ganhar forças, eles ficam ao redor de Elias conversando sem que este saiba disso.

Rosana – Mais um mortal querendo a imortalidade.

Sávio – Mas ele é nosso pai!

João – E daí, jamais ganhará a imortalidade.

Kelly – Mas e se ele morrer, nós morreremos também.

João – Não Kelly, se ele morrer nosso destino será sempre repetido nas mentes de quem nos ler.

Sávio – Então quer dizer que todos os nossos dias serão iguais, o que você acha disso Rosana?

Rosana – Eu acho que enquanto houver livro nosso nas mãos das pessoas, estaremos sempre em suas mentes, e consequentemente em suas vidas.

João – Vamos chamá-lo para nosso mundo?

Kelly – E quem vai escrever nossa história?

Sávio – Nós mesmos.

Cena 12

Elias toma um susto e olha para trás, e vê suas criaturas enfim com vida.

Elias – Meus filhos, vocês vieram.

Sávio – Cale a boca e preste atenção, olhe no que você se tornou.

Elias – Como assim?

João – Nós somos e sempre seremos reflexos de quem nos lê, e mais ainda de quem nos cria.

Elias – O que vocês estão dizendo?

Kelly – Ora Elias, você acha que nos criou do nada, eu sou seu lado feminino.

João – EU SOU A SUA IRA!

Sávio – Eu sou a sua hipocrisia!

Rosana – Eu sou o preço da sua fama.

João – Seu Cabrito Filho de um égua, olhe para mim, você também é assim, um lixo!

Sávio – Calma, ele não é assim, ele é um santo, santo do pau oco.

Elias – O que está acontecendo, meus próprios filhos...

Rosana – Filho uma ova, somos o que você sempre quis ser, ou então o que você verdadeiramente é.

Kelly – Somos reflexos da sua vida, vai publique esse livro logo, para que possamos ser livres.

João – Você nunca irá vencer sem a gente nunca!

Todos – Vai, publique, otário, publique logo, vai escreva escravo.(em burburinho, cada um falando alguma coisa ao mesmo tempo)

Cena 13

BO

(Elias está em sua mesa dormindo, ele acorda e percebe que tudo foi um sonho, ou seria realidade)

Elias – Ai, que sonho maluco que eu tive, acho que estou bebendo de mais. Que dor de cabeça.

(Vai até o bar e pega mais uísque)

Editor aparece na platéia

Editor – Elias, você tinha razão, esse seu livro é fantástico, a impressão que dá é que o que está escrito seja a nossa própria vida. Eu publico!

Elias – Obrigado editor, quer dizer então que o negócio está fechado?

Editor – Fechadíssimo, vamos tomar um café?

Elias – Obrigado Editor, mas eu não gosto de sair de casa.

Editor – Ora bobagem, vamos, afinal temos muito o que comemorar.

Elias – Vai você e comemore por mim, eu tenho que escrever.

Editor – Falando em escrever, você tem a continuação aí?

BO

Cena 14

Seu Francisco entra em cena desesperado querendo o final do livro.

Elias - capitulo 5 – A desistência.

Francisco – Elias, eu preciso do final do livro, me dê logo!

Elias – Calma seu Francisco, o livro não tem fim.

Francisco – Como não tem fim, tudo tem que Ter um fim, senão é melhor nem existir.

Elias – É verdade, mas esse livro não tem fim e existe, será publicado, e se alguém quiser o fim, vai Ter que ele mesmo escrever, pois eu não vou escrever um fim para um livro que não tem fim.

Francisco – Mas eu preciso de um fim!

Elias – Se acalme seu Francisco, sente aqui na minha mesa e vamos conversar.

Cena 15

Os dois sentam na mesa, e entram em cena Kelly e Sávio, estão como se estivessem dirigindo.

Kelly – Amor, deixa eu dirigir um pouquinho?

Sávio – Não querida, melhor não, estamos na estrada e você não tem carteira.

Kelly – Por favor amor, só um pouquinho?

Francisco – É isso que eu estou falando, olhe para alí, eles estão encenando a minha vida.

Elias – Eles quem?

Francisco – Seus personagens!

Elias – Não tem ninguém ali, você está muito cansado, deve ser isso.

Sávio – Já disse que não amor.

Kelly – Mas só um pouquinho?

Sávio – Está bem, venha troque de lugar comigo, mas só um pouquinho.

Kelly – Estou indo bem?

Sávio – Você nem saiu com o carro ainda!

Kelly – Eu sei, mas eu estou indo bem?

Sávio – Está sim amor. Agora coloque a seta e saia com o carro devagar.

Francisco – Elias, o que você fez nesse seu livro, porque isso está acontecendo?

Elias – Eu não sei o que você está falando, eu só escrevi com a alma e com o coração e além do mais é um livro sem fim, ninguém está acostumado a isto.

Francisco – Façamos o seguinte, se você escrever um fim para mim, só pra mim, eu não lhe cobro os próximos 3 meses de aluguel.

Elias – É uma proposta e tanto, mas não acha muito tempo...

Francisco – Eu preciso desse final!

Kelly – Olha amor, a polícia está atrás da gente.

Sávio – Então encoste!

Kelly – Mas eu não posso.

Sávio – Encoste!

Kelly – Não dá!

Sávio – Eles estão piscando os faróis, encoste.

Kelly – Mas eu não consigo.

Sávio – pisa no freio encoste.

Kelly – Pronto, parei... Lá vem a polícia.

João – Documento e habilitação por favor?

Sávio – Tá aqui o documento

João – Habilitação?

Kelly – Habilitação amor.

Sávio – Tá aqui!

João – Mas essa é a habilitação dele, cadê a sua.

João – você vai ser multada.

Kelly sai do carro e vai atrás de João.

Kelly – Seu guarda, você não pode fazer isso.

João – E por que não?

Kelly – Você sabe o que é uma mulher enchendo o saco do marido para dirigir?

Kelly – Você vai destruir um casamento seu guarda.

João – Não me importa.

Kelly – Mas seu guarda ele não queria deixar eu dirigir, fui eu quem insisti. Você tem mulher?

João olha para Kelly

Kelly – Mas se tivesse você saberia como é seu guarda. Você vai destruir um casamento seu guarda, se você multar meu marido.

João – Tá, tá vai, vai, vai antes que eu me arrependa.

Kelly, João e Sávio saem de cena.

Elias – Pronto, o seu final está feito, é só ler.

Francisco – Muito obrigado seu Elias, eu acho que agora eles foram embora. Até logo.

Elias – Adeus.

(Francisco anda como se fosse sair de cena, mas para antes, e fica lendo o papel dado à ele.)

Cena 16

(Elias volta para a mesa, senta e começa a escrever, Rosana aparece em cena)

Rosana – Então o dia passa, ficou para trás, para alguns, a história está terminada, e para muitos ela continua viva dentro de si. O homem caçador por natureza jamais pode se ver caçado, seja pelos tormentos interiores, seja pela forma em si, mas quando se vê em forma de presa, decide sumir, ir para qualquer lugar que não seja ali, então vá meu amigo, seu fim chegou.

(Elias deita na mesa, enquanto Francisco num canto morre amassando o papel)

BO

Cena 17

O telefone toca, Elias continua dormindo, entra a secretária Eletrônica.

Recado – Alô Elias, é Nolasco seu advogado, estou ligando para avisar que o inventário de sua mãe acabou, você já pode vender tanto a casa que você mora quanto qualquer outro bem dela, qualquer dúvida me ligue, estou no escritório.

Elias continua a dormir. Com o sinal de ocupado ele acorda, vai pegar um uísque e continua a escrever.

Elias - Capitulo 6, A mensagem e a revelação.

Os personagens entram em cena, os personagens fazem uma encenação com o corpo, demonstram a fragilidade humana, e ao mesmo tempo o círculo que comanda o tempo.

João – O tempo passa pois o círculo não é perfeito.

Sávio – E vede, ainda estamos aqui.

Kelly – Nosso pai, por mais um dia irá fazer nosso destino.

Rosana – Enquanto isso improvisamos nós mesmos, afinal nossa pai é um só, e nós somos muitos.

Kelly – Então venha, vamos voltar ao nosso lugar, à nossa dimensão.

João – Mas a verdade, a sua verdade estará sempre aberta como um livro para nós.

Sávio – O sol está nascendo, então não espere para ver se irá se pôr, viva seus segredos, e seus mistérios.

Todos – Viva a vida.

Cena 18

Elias para de escrever e vê seus personagens

Elias – Minhas crianças, vocês existem.

Sávio – Lógico, você nos criou!

Elias – Mas em minha mente apenas.

Rosana – Olhe aqui escritor, eu estou cansada, quero voltar para minha casa, você escreveu que eu moro numa pequena casa, mas fique sabendo que ela é bem confortável viu? E que diferença faz, mente, realidade, é tudo a mesma coisa, elas andam juntas.

Elias – Você é bem reclamona viu, por que fala assim comigo, eu te criei!

João – E se você encontrasse quem te criou, não falaria um monte de coisas para ele?

Kelly – E fique sabendo que nós somos todos os seus pensamentos, assim como você é de quem te criou.

Elias – Quer dizer que eu sou um personagem?

Sávio – Por que não, você é apenas mais um personagem de um outro escritor, é assim que funciona.

João – Resta saber apenas quem é o primeiro escritor.

Elias – Mas e se ele estiver logo acima de mim?

Personagens – Não está Elias, não está!

BO

(passagem de tempo, sonoplastia de rádio e televisão dando notícias sobre a fama de Elias, Elias está sentado na cadeira)

Rádio – Elias Gomes com seu livro “Destino” supera a venda do até então livro mais vendido do mundo.

Televisão – É uma loucura, as livrarias nunca tiveram uma procura tão grande por nenhum outro livro como o “Destinos” de Elias Gomes.

Rádio – trata-se de um livro sem fim...

Televisão – O livro se difere dos outros por não Ter fim, e a cada dia uma nova publicação...

Elias se levanta

Elias – A fama, o sucesso, o reconhecimento, tudo o que eu sonhei (desanimado), até meu sonho foi medíocre demais. Para que se tornar famoso num mundo de cegos, onde que tem um olho vira Rei, pra que? Para nada.

(Do meio da platéia se levanta um sujeito indignado com o que Elias está dizendo)

Platéia – Besteira, besteira e besteira. Isso que você está dizendo não tem fundamentos nenhum, como pode alguém desejar tanto a fama e quando a tem dizer que o mundo é cego, é demais né. Alguém pode me explicar, ou sou eu que estou na peça errada.

Elias – A resposta está dentro de você.

Platéia – Como assim a resposta está dentro de mim? Seus personagens dizem que você foi escrito por outra pessoa, tá e nós também. Nós evoluímos nesse tempo que existimos, inventamos o avião, fomos até a lua, construímos barcos, casas, automóveis, computadores, e você quer dizer para mim, que eu fui escrito por alguém?

Elias – Inventamos tanta coisa por acaso, ou por que estava escrito que aconteceria.

Platéia- Olha aqui, não tente me enrolar, se fosse para vivermos presos não teríamos o livre-arbítrio, você diz isso pois está protegido por esse palco, olhem, olhem a sua volta, e digam-me se sou apenas eu a me questionar sobre essa peça. Nós os homens temos e sempre teremos o livre-arbítrio, podemos fazer qualquer coisa, não vivemos numa prisão!

Elias – o Livre-arbítrio, o que é o livre-arbítrio? O livre-arbítrio está em nossa mente e não em nossas ações.

Platéia – você é maluco!

Platéia percebe que não tem argumentos contra Elias e sai da sala.

Elias sentado no meio do palco. Aos poucos vão aparecendo os personagens, falam algo e agradecem.

Elias – capitulo 7, os dias no mundo.

Sávio– Pobres leitores, criaram um mundo na mente deles próprios, e nós, somos apenas um grupo de atores criados por um escritor, que foi criado por outro escritor, que foi criado por outro, e outro e mais outro.

Pena que alguns escritores não esclarecem isso ao seu personagem, e eles vivem numa prisão onde jamais irão tentar escapar, afinal foi escrito: é impossível!

Rosana – E quem um dia irá dizer que tudo que existe não existe? Na certa nada mais irá existir, pois o homem cria, mas também destroí.

Kelly – Um momento! Um momento é mais do que um simples momento, é como uma vírgula, ou um ponto qualquer num texto, que se não é lida pode perder todo o sentido real do mesmo. Por isso viva cada vírgula, cada ponto e espaço, pois quem escreve para você dá a mesma importância tanto para o ponto, quanto para o livro em si.

João – Falar o que agora, se tudo já foi dito. Uma pessoa nunca é melhor do que a outra, afinal ambas são apenas pessoas. O que pensam ou o que elas tem, isso vocês inventaram.

Mulher – E se somos personagens ou não, não importa, a única coisa que vale a pena é saber viver.

O telefone toca, Elias atende!

Elias – Alô!

Editor da Platéia

Editor – Alô Elias!

Elias – Oi Editor, td bem?

Editor – Tudo ótimo Elias, td ótimo. Tenho boas novas.

Elias – E o que foi?

Editor – Você acaba de receber um convite para ir visitar o presidente.

Elias – Eu não vou.

Editor – Como não, todo escritor sonha com isso!

Elias – Eu não sonho com isso.

Editor – Mas eu prometi...

Elias – Eu tenho que terminar o livro.

Editor – Mas ele não tem fim,

Elias – Por isso mesmo.

Editor – Olha, eu não entendi aquela parte de que o mundo pode estar em nossa mente?

Elias – Eu também não!

Editor – Mas foi você que escreveu!

Elias – E daí!

Editor – Que tal tomarmos um café?

Elias – Aceito um uísque.

Editor – Está ótimo então...

Editor sobe no palco abraça Elias e saem pela coxia conversando ainda no celular, os personagens estão como estátuas paradas no centro do palco, a cortina cai.

FIM